Este livro nasceu do romance de viver de dois homens que Paul Verlaine e Arthur Rimbaud incarnaram nos anos 70 do século XIX, para estupor e indignação em Paris, Londres e Bruxelas. Romanças sem Palavras é um exercício espiritual que busca o silêncio após uma relação vertiginosa, marcada por fugas, entrega e abandono, ternura e violência, fidelidade e traição. É um livro admirável, atravessado por essa tormentosa convulsão que culminou na rimbaudização de Verlaine e na verlainização de Rimbaud.
Em Romanças sem Palavras, Verlaine mantém-se fiel ao dever de inventar, ousando na expressão da homossexualidade, ainda que de forma subtil. Um exemplo de experimentação e de inovação, mas também de lirismo corrigido pela ironia: a poesia de Verlaine acolhe aqui a influência da oralidade, da canção popular, mas também, na forma como insere notações da realidade e da paisagem, a influência da pintura impressionista.
A requintada oficina poética de Verlaine exibe uma concisão elíptica, bastando-se com a expressão mínima, como se tudo pudesse ser abreviado, a palavra, a sintaxe, talvez a vida. E tudo despido de espavento intelectual.