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  • Muito depois da meia-noite, de Ray Bradbury

Muito depois da meia-noite, de Ray Bradbury

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Muito depois da meia-noite

Autor: Ray Bradbury

Editora: Livros do Brasil

Coleção Argonauta nº 331

Tradução: Eurico da Fonseca 

166 páginas

Ano: 1985

 

Uma obra de Bradbury, é sempre um acontecimento.


Ray Bradbury é o mais celebrado autor de ficção-científica - diz-se frequentemente.

Não obstante, o aspecto científico, sem ser puramente negado, não é fundamental no seu trabalho. Os outros mundos, os progressos da tecnologia - mais do que os da ciência -, são simultâneamente o pano de fundo e a mola real dos problemas humanos que ele analisa com um toque de poesia jamais igualado.
Muito Depois da Meia-Noite - a versão portuguesa de Long After Midnight - contém 22 histórias, versando temas tão inesperados como o da Garrafa Azul do planeta Marte, até ao da barra de chocolate abençoada pelo Papa, bem guardada numa igreja, não se sabe onde... Histórias bizarras, sem dúvida. Histórias pungentes, algumas. Histórias de Bradbury, todas elas. E, como tal, magistrais. Por razões técnicas, Muito Depois da Meia-Noite será dividido em dois volumes.
Eis como se inicia a presente colectânea: 
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Os relógios de sol tinham-se tornado em pedrinhas brancas. As aves do ar voavam agora em velhos céus de rocha e areia, enterradas, as suas canções paradas. Os fundos do mar morto eram atravessados por correntes de poeira que inundavam a terra quando o vento decidia reviver uma velha lenda de absorção. As cidades estavam no fundo de celeiros de silêncio, onde o tempo era armazenado e mantido, lagoas e fontes de quietude e memória.
Marte estava morto.
Então, da grande calma, de uma grande distância, veio um som de insecto que se tornou maior entre as colinas cor de canela e se moveu pelo ar queimado pelo Sol até a estrada tremer e a poeira ser sacudida e cair num murmúrio, nas velhas cidades.
O ruído cessou.
No silêncio tremeluzente do meio-dia, Albert Beck e Leonard Craig estavam num velho carro de superfície, olhando uma cidade morta que não se movia sob o olhar deles, mas aguardava o seu grito:
- Olá!
Uma torre de cristal caiu numa chuva de poeira fina.
- Quem está aí?
E outra tombou. E outra e mais outra abateram-se, quando Beck gritou por elas, chamando-as à morte. Em voos estilhaçantes, animais de pedra com grandes asas de granito mergulharam para chocar contra os pátios e as fontes. O grito dele chamou-os como se fossem bestas vivas, e os animais deram resposta, roncaram, estalaram, ergueram-se, rebolaram, trémulos, hesitantes e, depois, cortaram o ar e mergulharam com a boca num esgar e os olhos vazios, com dentes afiados e eternamente esfomeados, subitamente imobilizados e atirados como metralha sobre os mosaicos.
Beck aguardou. Não caíram mais torres.
- Agora estamos em segurança. Podemos sair.
Craig não se moveu. - Pela mesma razão?
Beck moveu a cabeça afirmativamente.
- Por uma maldita garrafa! Não compreendo. Porque é que toda a gente a quer?
Beck saíu do carro.
- Aqueles que a encontraram, nunca o disseram. Mas... é antiga. Antiga como o deserto, como os mares mortos... e ninguém faz ideia do que ela contém.
- É o que diz a lenda. E como ninguém sabe o que ela contém... bem, isso desperta a fome de um homem.
- A tua e não a minha - notou Craig. A sua boca mal se moveu; tinha os olhos meio-fechados, um pouco divertidos. Espreguiçou-se. - Vim somente pelo passeio. É melhor observar-te do que estar aí ao calor.