É unânime ver na Ilíada, de Alberto Pimenta, o deflagrar do grande épico furor narrativo de uma cultura de heróis e super-heróis, ciosos da sua dignidade de ser homem no seio duma natureza que acolhe deuses; decerto será unânime a leitura da Ilhíada como exploração doutro ritmo (mas com “migalhas da mesa de Homero”) para esta cultura feita de pura ânsia de lucro e poder, e deuses que entre si disputam a existência, numa natureza exausta e que ainda serve, tudo à custa de deserdados, oprimidos e excluídos, que teimam em sobreviver.
«eram assim os putos das ilhas com quem se criou a minha fala, onde falei e, sem deixar de recriar, falei tudo o que nelas arranha e se cria; elas são no início e elas estarão no fim, pois tudo é assim, é redondo como o universo, todo de buracos que parecem vazios, tal como detrás da porta das ilhas se imaginam escadas que sobem e que descem, buracos vazios de viver, só uma passagem, e não esta cabra desta magra vida de ilha, de ida sem volta, vida que a dada altura deixou de valer [...]»