Esteiros, de Soeiro Pereira Gomes
Esteiros
Autor: Soeiro Pereira Gomes
Editora: Húmus - Colecção A Ilha
N.º págs: 228
Ano: 2021
ISBN: 9789897556081
Um livro que marcou várias gerações de leitores ao mostrar-lhes personagens que ficaram para sempre na nossa recordação, «os filhos dos homens que nunca foram meninos» (é essa a dedicatória a abrir o romance): Gaitinhas, Guedelhas, Gineto, Maquineta e Saguí. São eles os heróis anónimos de um diálogo entre o humano e a Natureza, a denúncia da injustiça e a busca de redenção, a solidariedade e a denúncia da pobreza e da penúria.
O romance, uma das referências mais emblemáticas do movimento neorrealista português, foi de leitura obrigatória nas escolas secundárias portuguesas durante duas décadas. É hoje um livro quase esquecido. No entanto, graças à sua ingenuidade, bravura e simplicidade, Esteiros é um documento marcante da história portuguesa do século xx - e deve ser relido para que não esqueçamos a fotografia amarga desses anos.
«Esteiros resiste até mesmo a esta vontade de apagar da literatura o empenhamento político-social; é precisamente essa a frescura da escrita, essa autenticidade das personagens nas suas condutas e nas suas frases, essa poeticidade flagrante.»
Urbano Tavares Rodrigues
«A sua miséria e o seu abandono são de repente a sua liberdade e a liberdade pura alegria. [...] Descalços, esfarrapados, famintos, com a mãe a morrer ou o pai desempregado, submetidos por uns tostões à inominável violação de um trabalho animal, estas crianças nunca pedem dó e nunca fazem dó.»
Vasco Pulido Valente
«Poder-se-á também dizer que um romance sobre crianças condenadas à miséria é singular no panorama literário nacional, despertando emoções particulares. Depois, ou talvez sobretudo, há a componente política. Por razões mais ideológicas do que estéticas, o romance entrou para o cânone escolar, sendo de leitura obrigatória na escola, depois do 25 de Abril, para só sair, talvez ainda por razões ideológicas, passados alguns anos. Por isso, muita gente, mais ou menos jovem, o leu ou, pelo menos, teve obrigação de o ler.»
Carlos Fiolhais
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"Noutras noites, quando o luar parecia escorrer pelas escadas do forno, puídas de velhice, e os esteiros eram fiada de espelhos, os rapazes cismavam, fitando os astros. A brisa emitia sons de melodias longínquas; coaxavam rãs entre os limos da charca; uma estrela riscava o céu. Alguém, então, desencantava o silêncio do grupo. — Gaitinhas, canta um fadinho… A voz arrastada do garoto emudecia as rãs e a brisa.”
Livros cosidos, com folhas não aparadas, à semelhança do que se fazia no passado. A editora liga assim a coleção à História do Livro e associa-lhe uma vantagem ecológica, evitando o desperdício de papel.