Divã de Hispânia, de Fernando Salazar Torres
Divã de Hispânia
Autor: Fernando Salazar Torres
Tradução: Carlos Ramos
Editora: Edições Fantasma
102 páginas
Ano: 2022
Cantiga da morte apaixonada
Do meu amor nada dou à morte apaixonada,
de mim ela tem tudo, vida, tempo, memória,
e embora lhe falte algo de mim, ela sempre me amará.
Sou terra, sou fumo, sou pó, sou sombra, sou nada.
À vida roubo o suspiro, e do tempo, a vida,
de memória falta-me toda a areia,
e do amor, a tudo me dá nada, nada...
Sou terra, sou fumo, sou pó, sou sombra, sou nada.
Ela apaixona-se pela pele, é o aroma
do seu amor que nada dá ao pó apaixonado,
e embora eu tenha algo dela, não possuo a sua sombra.
Sou terra, sou fumo, sou pó, sou sombra, sou nada.
O meu fim está próximo, o meu fim virá de fora,
vem cambaleando atrás da sombra má,
feitiço do anjo mau, está lá fora à espera da hora.
Sou corpo, sou fumo, sou pó, sou sombra, sou nada.
Cantiga de la muerte enamorada
De mi amor no doy nada a la muerte enamorada,
de mí ella tiene todo, vida, tiempo, memoria,
y aunque algo le falta de mí, siempre me amará.
Soy tierra, soy humo, soy polvo, soy sombra, soy nada.
A la vida le quito el suspiro, y al tiempo, vida,
de la memoria me falta el total de la arena,
y del amor, a todo me entrega nada, nada…
Soy tierra, soy humo, soy polvo, soy sombra, soy nada.
Ella se enamora de la piel, es el aroma
de su amor que no da nada al polvo apasionado,
y aunque algo tengo de ella, no poseo su sombra.
Soy tierra, soy humo, soy polvo, soy sombra, soy nada.
Mi fin está cerca, mi fin vendrá por afuera,
viene dando tumbos detrás de la mala sombra,
mal hado de ángel, está afuera esperando la hora.
Soy cuerpo, soy humo, soy polvo, soy sombra, soy nada.