Adivinhas de Pedro e Inês, de Agustina Bessa-Luís
Adivinhas de Pedro e Inês
Autora: Agustina Bessa-Luís
Editora: Guimarães editores
240 páginas
Ano: 1986
A história de Pedro e Inês recebe aqui um tratamento a situá-la na sua figura própria, que é o carácter da pessoa. A verdade é um estado de fé. Descobrir nos arquivos os sinais dos acontecimentos é menos importante do que descobrir a maturidade do tempo em que os acontecimentos se deram e, por conseguinte, a verdade. Não se trata de um romance nem de uma biografia, ou de um pretexto de autonomia em vista de uma cultura. É uma obra de investigação, mas fora das indicações imperativas sobre a maneira de conduzir um estudo deste teor. A imaginação, tão corrompida pelo maquinal da razão e do gosto, tem aqui um papel principal, o papel das luzes no sentido mais amplo. Sobretudo o que interessa a Agustina Bessa-Luís é compreender a dependência em que se encontram as decisões da vontade humana frente à soberania da razão momentânea, ditada pelos grupos dominantes e pela natureza regressiva de todas as coisas.
A grande alternativa do nosso tempo está em aceitar a aliança com os elementos que compõem uma sociedade, e desse modo chegar ao conhecimento. Assim é o método da nova História; tudo o mais é confusão e temor. Em certo momento Pedro e Inês puderam significar um passo no caminho da autoridade humana. A forma patriarcal do regime é abalada pela paralela competência da ordem homem-mulher. Mas a razão tem o seu calvário próprio e nem sequer se pode dizer que ela é propensão que visa acabamento e perfeição. É sob formas teológicas que nós sustentamos os nossos sonhos de liberdade. O mito corresponde ao sentimento de insegurança perante um acréscimo da razão; e, no entanto, por si ela se move.