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  • A Raça Maldita, de Marcel Proust

A Raça Maldita, de Marcel Proust

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A Raça Maldita

Autor: Marcel Proust

Tradução: Aníbal Fernandes

Editora: Hiena

Nº. págs: 132

Ano da edição: 1989

 

Dir-se-á — lendo Proust, uma biografia de Proust — que certos momentos seus (quase inocentes assim, no seu brilho solitário) podem ser concentrados num cristal incandescente; que uma criança hipersensível e protegida, a viver entre mansões de Illiers e Paris, desvia consequências de um resfriamento apanhado em dia de passeio no Bosque de Bolonha, de uma leitura de Gautier, de um reflexo de céu e telhado numa parede e num charco, e fá-las transmutar-se no mais secreto nódulo de uma surpreendente arquitectura literária — romance de sete faces — «Em Busca do Tempo Perdido».


[…]
Coleccionadas as mais célebres páginas de Proust fariam um livro tão cómodo como brilhante; saberiam poupar o leitor ao que pode ser a impaciência de percorrer uma torrente de duas mil páginas; fariam desfilar os seus «morceaux de bravure», as madalenas molhadas em chá de tília, Françoise planta rústica e simbiose dos seus patrões, a sonata de Vinteuil, o escabroso encontro entre Jupien e Charlus, a Ópera em glauca transparência de aquário de monstros marinhos, a morte de Bergotte…
Tratando-se, porém, de um escritor que tanto esforço fez para demonstrar a existência de uma aventura contínua e só avaliável na sua totalidade, parece critério antológico menos lesivo surpreendê-lo através de textos autónomos que constituem as grandes linhas de força da sua personalidade; ou seja, oferecê-lo num exercício sobre a procura do tempo pela memória involuntária, numa dissertação sobre a diferença sexual, numa canção trágica de amor de filho, num momento de singular obsessão pela morte:
[…]
O conjunto talvez comece por cantar um poema à melancolia da vida, da arte, dos sentimentos; inevitável nesse tempo proustiano imobilizado sobre o outro, que é vivido de uma forma física e no presente. Mas virá depois um jogo que oculta a possibilidade de um singular prazer: o de friccionar a memória do presente na memória do passado… para o Génio aparecer.
Aníbal Fernandes